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A excelência teológica dos pentecostais
A excelência teológica dos pentecostais

 

A excelência teológica dos pentecostais

 

 MAURICIO BERWALD

Disse alguém, certa vez, que o Pentecostalismo é um movimento à procura de uma teologia. Tal afirmação, embora cheire à erudição, carece de fundamentos. Antes de mais nada, porque o Movimento Pentecostal não é somente experiência, mas o resultado de uma profunda e bem amadurecida reflexão bíblica. Aliás, entre os primeiros crentes a receberem o batismo com o Espírito Santo, não havia só gente simples e leiga; havia também excelentes teólogos. Haja vista o pastor sueco Lewi Pethrus (1884-1974). Entre os pioneiros, veio ele a sobressair-se como poeta, jornalista e expositor bíblico.

 

Seja-me permitido citar outro literato que, ao lado de Lewi Pethrus, emprestou às igrejas pentecostais um sólido alicerce teológico e cultural. Refiro-me ao romancista Sven Lidman (1882-1960). Também sueco de nascimento, teve ele, em 1917, um encontro marcante com Deus que, de maneira piedosa e grácil, eterniza num de seus romances. Quatro anos depois, juntava-se Lidman ao nascente avivamento, pontificando-se, a partir daí, não apenas como pregador e teólogo, mas ainda como editor da revista Evangelii Harold. Sven é um dos nomes mais respeitados da literatura sueca.

 

Tivesse eu espaço, citaria outros teólogos que, desde o início do Avivamento Pentecostal, vêm fundamentando bíblica e teologicamente a nossa fé. Como esquecer, porém, Stanley Horton, Wayne Gruden, J. Rodman Williams e Gordon Fee? No Brasil, lembro o pastor Antonio Gilberto que, além de teólogo, abriu-nos um espaçoso caminho no árduo e incompreendido solo da Educação Cristã.

 

A contribuição teológica dos pentecostais não pode ser desprezada. Por isso, destacarei, nesta matéria, o desenvolvimento que os nossos teólogos trouxeram ao estudo do Espírito Santo. Ao contrário do que supõem alguns desafetos, também há teologia de excelente qualidade entre nós.

 

A doutrina do Espírito Santo

 

Passada a era apostólica, não foram muitos os teólogos que se dispuseram a tratar da pessoa e da obra do Espírito Santo. Até porque as controvérsias que marcaram o Cristianismo nos primeiros sete séculos de sua história foram irresistivelmente cristológicas. Desde o Concílio de Nicéia, em 325, ao III de Constantinopla, em 680, os doutores da Igreja Cristã de outra coisa não se ocuparam senão em rebater as heresias que atentavam contra a doutrina que ensina ser Jesus Cristo verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Embora o Espírito a tudo dirigisse, era o mesmo Espírito ignorado.

Houve, contudo, algumas exceções.

 

Basílio de Cesareia (330-379) foi o primeiro doutor da igreja a escrever um tratado completo sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Por essa razão, o grande capadócio é reconhecido como o teólogo do Espírito Santo. Em sua obra, busca ele mostrar que o Espírito é, de fato, uma pessoa divina e não uma energia emanada de Deus: Ele mesmo é Deus.

 

O Concílio de Constantinopla, realizado em 381, veio reafirmar a divindade do Espírito Santo como o “Senhor, o doador da vida, que procede do Pai e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. Referendou-se, assim, a posição de Niceia quanto à pessoa do Consolador. A partir daí, o Símbolo Niceno passou a ser conhecido como o Credo Niceno-Constantinopolitano, sendo largamente recitado nas igrejas orientais e ocidentais. As congregações latinas, porém, fizeram um pequeno acréscimo ao texto, que veio a gerar uma dolorosa controvérvia que, em 1054, resultaria na divisão entre as cristandades do Oriente e do Ocidente. A questão, conhecida como Filioque que, em latim, significa “e do Filho”, dizia respeito à processão do Espírito Santo. O texto grego indica que o Espírito Santo procede apenas do Pai. Mas, no latino, com o acréscimo do Filioque, a processão do Consolador ficou caracterizada como dupla. Isto é: o Paracleto procede tanto do Pai quanto do Filho.

 

A discussão, porém, se por um lado causou a fissura do universo cristão, por outro, trouxe mais alento ao estudo da doutrina do Espírito Santo.

 

Tomás de Aquino (1225-1274) poderia ter escrito com mais largueza e simplicidade acerca do Consolador. Ele, porém, enveredou-se pelos caminhos da filosofia, e acabou dando mais atenção a Aristóteles do que aos profetas e apóstolos. Já prestes a concluir a sua vastíssima súmula, teria declarado em seis de novembro de 1273: “Tudo que escrevi parece palha para mim”. E, a partir de então, nunca mais escreveu.

 

Entre a Súmula Teológica, de Aquino, e as Institutas da Religião Cristã, de João Calvino (1509-1564), fico com a segunda. Entre outras razões, porque o teólogo francês soube como tratar o Espírito Santo. Se reunirmos todas as referências que ele lhe faz só  no primeiro volume de sua obra, já teríamos uma pneumatologia completa. Não é sem razão que Calvino seja também cognominado o teólogo do Espírito Santo. Podemos não aceitar tudo o que o grande reformador ensinou. Todavia, não devemos ignorar-lhe a reverência e o temor com que tratou o amado Consolador.

 

A doutrina e a prática do Movimento Pentecostal

 

Desde João Calvino até o surgimento do Movimento Pentecostal, os teólogos pouco se consagraram ao estudo do Espírito Santo. Geralmente, enfocava-se a Terceira Pessoa no capítulo referente à Santíssima Trindade, e não numa seção dedicada  exclusivamente à pneumatologia. É claro que houve algumas exceções. Com o Avivamento da Rua Azuza, todavia, os pentecostais demonstraram, na prática, o que os tradicionais desconheciam inclusive teoricamente. Ou seja: que Jesus continua a batizar com o Espírito Santo e que o Espírito Santo, por sua vez, ainda distribui à Igreja seus ricos e variados dons.

 

A partir daí, retomou-se o zelo que Atanásio (295-373) demonstrou ao definir, no credo que lhe leva o nome, a Santíssima Trindade. Nesse documento, o bispo de Alexandria demonstra que o Espírito Santo não é uma mera influência e, sim, a pessoa enviada pelo Pai, a fim de fortelecer o corpo místico do Filho.

 

Tenho ainda em mãos o primeiro livro de teologia que li, quando ainda adolescente. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia não é uma obra academicamente perfeita; teologicamente, porém, é louvável e rica. Escrita por Myer Pearlman (1898-1944), um judeu que, bastante jovem, convertera-se numa igreja pentecostal, apresenta uma pneumatologia simples, clara e rigorosamente bíblica. O autor não se limita a mostrar que o Espírito Santo é uma pessoa; faz questão de ressaltar que, nEle, fomos imersos na Igreja Invisível e que, dEle, somos cheios como os discípulos no Dia de Pentecostes.

 

Myer Pearlman escreveu do que experimentou. Por isso, a sua pneumatologia, conquanto não exaustiva, é plena. De vez em quando volto a ler o irmão Pearlman que, na plenitude de seu ministério, foi recolhido à Casa do Pai.

 

Conclusão

 

Encerro este artigo com uma citação de William W. Menzies e Stanley Horton sobre o batismo com o Espírito Santo. Basta-nos este trecho para concluirmos que o Pentecostalismo não é um movimento destituído de doutrina. Pelo contrário: é o resultado, como já dissemos, de uma profunda reflexão bíblica:

 

“Todos os crentes têm direito à promessa do Pai, a qual deveriam esperar ardente e intensamente: o batismo com o Espírito Santo e com fogo, de acordo com o mandamento de nosso Senhor Jesus Cristo. Essa era a experiencia normal de toda a Igreja Primitiva. Com ela chega a concessão de poder para a vida e o serviço, a doação dos dons e seu uso no ministério (Lc 24.49; At 1.8; 1 Co 12.1-31) Essa experiência é distinta e subsequente à experiência do novo nascimento (At 8.12-17; 10,44-46; 11.14-16; 15.7-9). O batismo com o Espírto Santo permite-nos experimentar uma plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais profunda por Deus (At 2.43; Hb 12.28) uma intensa consagração a Ele e dedicação à sua obra (At 2.42) e um amor mais ativo por Cristo, por sua Palavra e pelos perdidos (Mc 16.20)"

 

Logo, a que conclusão chegamos? Gente sem teologia e doutrina jamais escreveria desse jeito. Somente um movimento sério e responsável é capaz de produzir textos de semelhante qualidade. Que Deus seja louvado.

FONTE CPADNEWS /WWW.MAURICOBERWALD.COMUNIDADES.NET