SUBSIDIO N.6 ADULTOS PLANEJAMENTO
FINANCEIRO NA FAMILIA
SUBSIDIO MAURICIO BERWALD PROFESSOR ESCRITOR
Somos todos culpados diante do Senhor por nossas ambições e orgulho! Somos inescusáveis diante do tribunal divino. O nosso opróbrio não é maior do que os sulcos de dor, desprezo, incapacidade e desdém que cavamos diariamente em nossos irmãos (1 Jo 3.15). Somos culpados de orgulho e ambição diante de Deus. Confessemos os nossos pecados (1 Jo 3.19-21). Peçamos um novo coração e uma nova disposição espiritual (Sl 51.10). Sejamos perdoados e oremos como fez o salmista:'Ó SENHOR Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância.Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias, que estão fora do meu alcance.Assim, como a criança desmamada fica quieta e tranqüila nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranqüilo, e o meu coração está calmo dentro de mim'. (Sl 131.1,2 - NTLH)..
. I. O PERIGO DE TENTAR COMPENSAR O AMOR AO DINHEIRO COM BOAS OBRAS E RELIGIOSIDADE
- O jovem rico vai até Jesus, mas sem disposição de renunciar às riquezas (v.16a). Segundo Lucas escreveu, o jovem da parábola era um príncipe, pessoa importante da sociedade judaica (Lc 18.18). Marcos chama-o apenas de “homem” (Mc 10.17), enquanto Mateus afirma que ele era um jovem que possuía muitas propriedades (Mt 19.22). Portanto, o jovem fazia parte de uma minoria privilegiada que, via de regra, se beneficiava do sistema de dominação romano e da elite judaica. Esse grupo é criticado duramente por Jesus em seus discursos. Independente de sua posição, o jovem vai até Jesus e pergunta o que era necessário para herdar a vida eterna. Fica evidente o respeito do jovem pelo que havia ouvido e visto a respeito do Mestre, pois considera que Ele sabia o caminho correto para se alcançar a vida eterna. No entanto, o reconhecimento e o interesse pela salvação não são suficientes, esse processo requer arrependimento e fé suficientes para renúncia e transformação de vida (Mt 9.2; Mc 1.15; Lc 17.19; At 3.19).
- O jovem acreditava conseguir a vida eterna por méritos próprios (vv.16,17,20). A pergunta do jovem demonstra que ele também vivia de acordo com a crença dominante da época, a qual fazia com que as pessoas acreditassem que a riqueza era sinônimo de justiça e comunhão com Deus. Para elas a justiça se dava por meio de obras que se resumiam em rituais e esmolas aos pobres. O jovem pergunta: “Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?”.Em primeiro lugar, ele chama Jesus de “bom mestre”, uma forma de elogio e reconhecimento de quem fazia boas obras, por isso era chamado de “bom”. Na sequência ele questiona o que poderia fazer para conseguir a vida eterna, ou seja, que tipo de ritual, ou caridade, poderia lhe garantir uma vida eterna com Deus. De acordo com o pensamento da época, algo de piedoso poderia ser realizado para merecer a salvação, doutrina que foi duramente combatida pelo apóstolo Paulo por meio da doutrina da justificação pela fé (Rm 4).
- O amor ao dinheiro não pode ser compensado pela religiosidade (vv.17-20). O jovem provavelmente ficou feliz quando Jesus responde que ele deveria guardar os Mandamentos (v.17). Antes, porém, ele pergunta quais eram esses Mandamentos, talvez pensando na possibilidade de que Jesus tivesse outra opção. Contudo, a resposta não era surpresa para um judeu praticante: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Ele prontamente responde: “Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade”. Atitude de um exímio religioso, cumpridor das tradições judaicas com vista a agradar a Deus. A situação desse jovem é o retrato de milhares de pessoas na atualidade. Religiosos que cumprem rituais, sacrifícios e muitas obras de caridades, entre outras práticas, mas sem a intenção de se arrependerem de seus pecados e se tornarem um discípulo de Jesus.
- O jovem sabia que lhe faltava algo (v.20). O jovem se anima para demonstrar que era zeloso com a guarda dos Mandamentos, mas na realidade sabia que o seu zelo não era suficiente. A sua nova pergunta demonstra essa verdade: “Que me falta ainda?”. Talvez o jovem houvesse presenciado alguns dos vários debates entre Jesus e os principais líderes judaicos e fosse convencido da necessidade de mudanças no seu interior.
Os discursos de Jesus causavam um grande desconforto aos praticantes do judaísmo, em especial os escribas e fariseus. Eles eram os mestres da lei, bem como os principais beneficiários das interpretações que eles mesmos faziam dela. Os principais líderes religiosos, independente da situação de Israel em relação com os dominadores, sempre eram beneficiados pelo seu poder de influência e dominação. O Reino de Deus propagado por Jesus visava salvação, bem-estar, prosperidade e felicidade para todos e não para um grupo específico. Jesus expõe a verdadeira justiça do Reino dos Céus com base na lei, nos profetas e nos salmos. Portanto, a base era a mesma, o que diferenciava era a interpretação.
- O PERIGO DE PERDER A VIDA ETERNA DEVIDO AO APEGO DEMASIADO AOS BENS MATERIAIS
- O apego excessivo aos bens materiais impediu o jovem de seguir Jesus (v.21,22). A resposta de Jesus não foi o que o jovem esperava ouvir: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me”. Ele que, aparentemente almejava ser um seguidor de Jesus e queria a vida eterna, se vê impossibilitado pela falta de desprendimento de seus bens. O que chama a atenção é que o diálogo se encerra imediatamente, por que o jovem não consegue disfarçar a sua insatisfação. Assim que ouve a resposta de Jesus, ele fica triste, retira-se e não interroga mais o Mestre. Mateus deixa bem claro o motivo de sua tristeza e rejeição ao convite de Jesus: “Porque possuía muitas propriedades”. Alguns pregadores, erroneamente, se aproveitam dessa passagem para exigir e tirar contribuições forçadas de fiéis.Entretanto, vender todos os bens e entregá-los aos líderes religiosos não são uma condição para a salvação. O que Jesus mostra é que o apego demasiado aos bens materiais distancia o ser humano do projeto de Deus. Jesus, na Parábola do Semeador, já havia destacado o perigo de a sedução das riquezas sufocar a Palavra (Mt 13.22). Ele compara essa experiência com a semente (Palavra) semeada entre os espinhos, símbolo dos cuidados deste mundo e da sedução das riquezas, que sufocam a Palavra recebida. A Palavra de Jesus foi semeada em um terreno (coração) que não estava apropriado para germinar, apesar do interesse do jovem rico.2. Jesus explica o que havia acontecido aos discípulos (vv.23-26). Jesus, como de costume, tem uma conversa reservada com seus discípulos e revela o que havia acontecido. Ele evidencia que o apego demasiado às riquezas pode impedir a entrada no Reino dos Céus. Jesus primeiro afirma ser difícil um rico entrar no Reino de Deus (v.23) e na sequência, usa uma expressão bem conhecida dos judeus: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”. Essa é uma linguagem hiperbólica para dizer que, na realidade, é impossível um rico, nas condições daquele jovem, se salvar.
Os discípulos, como em outras vezes, também não entenderam o que Jesus afirmou. Eles fazem o seguinte questionamento: “Quem poderá, pois, salvar-se?”. Os discípulos também eram influenciados pela crença popular de que as riquezas significavam bênção e era sinal da justificação de Deus (Dt 28.1-14). Embora os perigos da riqueza também sejam abordados no judaísmo (Pv 15.16; 30.8,9; Ez 7.19), Jesus esclarece que a verdadeira fonte de salvação é somente Deus (v.26).
- A vida eterna é para os “pobres de espírito”. As bem-aventuranças apresentadas por Jesus no Sermão da Montanha e registradas no Evangelho de Mateus 5.1-12 declaram serem felizes os pobres de espírito. A expressão “pobres de espírito” têm vários significados, como por exemplo: humildes, carentes, modestos e miseráveis. Contudo o Comentário Bíblico Pentecostal afirma que “os pobres de espírito são os que percebem que estão moral, espiritual e até fisicamente falidos e sem a graça de Deus. Eles estão conscientes de que sempre necessitam de Deus”.
Infelizmente muitos são pobres, mesmo tendo muitos bens materiais, pois não reconhecem a graça, o favor de Deus. Rejeitam a justiça divina, se tornam soberbos e opressores. Jesus não somente ensinou o caminho da bem-aventurança, como também testemunhou com seu próprio exemplo de vida. Jesus Cristo tendo tudo, escolheu, por amor a nós, viver como pobre (Zc 9.9 cf. Mt 21.5). Ele chorou pelos necessitados (Lc 19.41; Jo 11.35) e tratou a todos com humildade e mansidão (Mt 11.29); teve fome e sede de justiça (Mt 17.17; 21.12,13). Jesus foi misericordioso (Mt 9.13) e perseguido por causa da justiça (Jo 11.46-53).A salvação não é exclusiva de um grupo de pessoas. A vida eterna, com Deus, está reservada a todas as pessoas que são “pobres de espírito”.
Aqueles que amam os bens materiais e os colocam em primeiro lugar correm o risco de perder a vida eterna com Deus. O cristão deve seguir o estilo de vida de Jesus, que não somente ensinou o caminho da vida eterna, como também testemunhou com seu próprio exemplo de vida.“No mundo, as economias crescem, e se desenvolvem, graças à chamada globalização, em que se maximizam os lucros, através da diminuição dos custos, pela utilização da tecnologia avançada, ao lado do uso exploratório de mão-de-obra barata, nos países emergentes. A vida de milhões de pessoas melhorou, graças à maior produção de bens, e de oportunidades de trabalho. Porém, ainda há muitos milhões de excluídos dos resultados econômicos; há muitos pobres e miseráveis que não tem sequer o mínimo de calorias para manter uma vida saudável, por comerem somente uma vez por dia. Eles estão por aí, na periferia das cidades e metrópoles; e alguns são evangélicos. Pasmemos: há igrejas, onde o luxo é tão grande, que os miseráveis não conseguem entrar. E nem são bem recebidos. São as igrejas da ‘classe A’! Um pastor me disse que, numa igreja, quando um pobre vai à frente, seu nome sequer é anotado. É aconselhado a ir procurar uma igreja mais próxima de sua casa, que tenha pessoas do seu nível social. Nessas igrejas, o carpinteiro de Nazaré talvez se sentisse pouco à vontade. Para os excluídos, não adianta pregar apenas com palavras. É necessário demonstrar amor por eles, falando e agindo; pregando, e dando o pão cotidiano; assistindo, dando o peixe, e, mais que isso, ensinando a pescar, para que experimentem algum tipo de ascensão social” (RENOVATO, Elinaldo. Perigos da Pós-modernidade. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2007, p.216).O fim da Lei era produzir uma justiça, isto é, uma forma de organização de vida que levasse os que a seguissem a agir de maneira justa e solidária, a partir do coração, e não meramente observando mecânica e friamente a regras (Lv 19.15; Dt 4.5-8; Is 1.10-17; 22.3,16; Mq 6.6-8; Zc 7.8-14). Um simples exemplo ilustra o ponto. Quando procurado por uma figura ilustre da sociedade e questionado acerca do que deveria ser feito para se herdar a vida eterna, Jesus disse-lhe que era necessário guardar os mandamentos. Sem titubear, o interlocutor respondeu ao Mestre que isso ele já fazia desde a sua juventude. Entretanto, a observação feita por Jesus na sequência demonstra que a observação rigorosa dos mandamentos não passava de uma atitude cuja motivação era apenas o cumprimento mecânico e frio: ‘Se queres ser perfeito [teleios], vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me’ (Mt 19.21). A Bíblia de Estudo Palavras-Chave faz uma distinção importantíssima a respeito da expressão teleios, dizendo que ela não ‘deve ser confundida com anarmatetos’ expressão grega cujo significado é ‘sem pecado’. Isso não é exigido do ser humano, pois apenas Deus não tem pecado (Mt 19.17 cf. Jo 8.7 e 1Jo 1.8-10; 3.5), mas agir de forma verdadeira é possível” (CARVALHO, César Moisés. O Sermão do Monte: A justiça sob a ótica de Jesus. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, p.78).
- A PROSPERIDADE FINANCEIRA NO ANTIGO TESTAMENTO (Dt 28.1-6)
- A prosperidade atrelada à obediência (v.1). Os expoentes da Teologia da Prosperidade, erroneamente, defendem que aqueles que estão enfermos, enfrentando um tempo de escassez ou de sofrimento, estão em pecado ou perderam a fé. Na verdade, o propósito destes é a mercantilização da fé. A Teologia da Prosperidade também é conhecida como a Teologia da Retribuição. Segundo os ensinos errôneos desses falsos profetas, tal teologia é bem destacada no livro de Jó. Nesse livro, ela é representada pelos “amigos de Jó”.Eles, ao chegarem para consolar Jó das desgraças que haviam lhe abatido, logo procuram a causa do ocorrido, buscando obter de Jó a confissão dos pecados cometidos. Para eles o pecado de Jó era a causa de todo sofrimento. Esse tipo de teologia defende e legitima a riqueza, pois segundo seus defensores, a riqueza é sinônimo de justiça, pureza e santidade. Por outro lado, a pobreza significa castigo pelo pecado e injustiça praticada. Jó questiona essa teologia, pois tinha convicção de sua comunhão com Deus e da vida íntegra que vivia. Ele era testemunha viva de que a obediência era fundamental para uma vida bem-sucedida, mas não significava que o obediente não enfrentaria adversidades. A Teologia da Prosperidadade é a “teologia da barganha” com Deus. Entretanto, já no Antigo Testamento tal ensino errôneo era questionado pelos servos de Deus, como por exemplo, Jó.
- As bênçãos da prosperidade são consequências naturais (vv.2-5). É interessante notar que Deuteronômio 28.2-5 destaca que as bênçãos não são buscadas, elas são atraídas pela atitude obediente daqueles que ouvem e obedecem à voz de Deus: “E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do SENHOR, teu Deus” (Dt 28.2). Desse modo, as melhores bênçãos são decorrentes do ouvir e obedecer ao Senhor. Qual seria o resultado na vida de uma pessoa que teme a Deus, o obedece e procura viver uma vida honesta, dedicada à sua família e ao trabalho? Evidente que as consequências serão as melhores possíveis, todavia essas pessoas também estão sujeitas a enfrentar dificuldades. Como nos mostra o Salmo 73, o ímpio também pode ser bem-sucedido em seus negócios e em outras áreas da vida. Contudo, do que vale essa prosperidade, sem a graça de Deus? No final eles perecerão: “Pois eis os que se alongam de ti perecerão; tu tens destruído todos aqueles que, apostatando, se desviam de ti” (Sl 73.27).A prosperidade financeira não é um sinal da aprovação do Senhor. Temos de ser sábios e pedir ao Senhor discernimento para enfrentar as falsas doutrinas com relação ao uso do dinheiro e à prosperidade financeira. O crente precisa seguir o conselho de Agur em Provérbios 30.8: “[…] Não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada”.
- Bem-aventurado quem mantém sua integridade o tempo todo (v.6). O fato de possuir muitos bens materiais e prestígio pode significar, para algumas pessoas, sucesso e garantia de uma vida feliz. Contudo, isso não condiz com a realidade bíblica. Existem muitas pessoas desfrutando de prosperidade financeira, porém infelizes e depressivas. Da mesma forma, têm pessoas com um baixíssimo poder aquisitivo, porém felizes e desfrutando de paz. Assim, não é a riqueza ou a pobreza que define o sucesso. Segundo os padrões bíblicos, uma vida próspera é uma vida de comunhão com Deus e de obediência aos princípios bíblicos.
Segundo Eclesiastes 7.8, “o fim é melhor do que o começo” pois, existem pessoas que começam bem, mas não terminam bem. Deuteronômio 28.6 nos mostra que o ideal é desfrutar da bem-aventurança em todo o percurso de vida. Para isso, é preciso ser fiel a Deus em todo o tempo, independente das circunstâncias. No Antigo Testamento fica claro que muitos servos e servas, embora obedientes a Deus e fiéis, passaram por várias privações, como por exemplo o profeta Jeremias. No entanto, para quem não começou bem resta uma esperança, pode ainda terminar bem, se entrar pelo caminho da fé e obediência a Deus.
- A PROSPERIDADE FINANCEIRA E O CRISTIANISMO
- O maior tesouro é fazer a vontade Deus e viver em paz (Mt 6.19-21). Em uma sociedade consumista e centrada na economia de mercado, o dinheiro e os bens materiais assumem um papel peculiar. As pessoas são educadas para se ocuparem com o “ter”, como a busca por uma boa formação acadêmica, um emprego que dê uma boa projeção financeira e social, uma boa casa, um bom carro. Os desejos são muitos. Não há nenhum problema em se preparar para o mercado de trabalho e buscar conquistar uma boa posição financeira. O problema é quando isso se torna a única meta principal a ser atingida. Jesus adverte que o principal tesouro a ser conquistado não é o material, terreno, pois eles produzem satisfação e alegrias momentâneas, efêmeras. Em vez disso, Ele recomenda ajuntar tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não podem consumir (Mt 6.19).
- A metáfora do olho como lâmpada do corpo (Mt 6.22,23). O Reino de Deus irrompeu num tempo em que o mundo do primeiro século estava em profunda crise. A maioria, na pobreza, vivia ansiosa pelas coisas fundamentais à sobrevivência e em grande expectativa pelo futuro, com fé na esperança messiânica. Por outro lado, havia uma minoria que vivia em função do dinheiro e do que ele podia proporcionar. Eles não viam a obtenção do lucro, a qualquer custo, como um problema ético ou moral, mas como sinal de bênção divina.Certa vez, Jesus falou a respeito da pureza dos olhos (Mt 6.22). O texto descreve dois tipos de olhos: O bom e o mau. O bom enxerga segundo a vontade de Deus. É um olhar livre da ansiedade obsessiva pelas provisões materiais. Por isso prioriza a caridade e a solidariedade, o que torna todo o corpo luminoso. O olho mau revela o interesse exagerado pela riqueza egoísta, buscando o acúmulo de bens, ainda que estes sejam adquiridos de forma corrupta e torna todo o corpo tenebroso. Jesus mostra que as escolhas humanas são moldadas pela visão de mundo de cada pessoa. Desse modo, o “olho” é que determinará o futuro do corpo, o lugar para onde irá.
- A escolha entre servir a Deus ou ao materialismo, o deus Mamom (Mt 6.24). Em todo o capítulo 6 de Mateus o tema recorrente é o compromisso do coração. Um compromisso desvirtuado tem como foco o acúmulo de bens materiais. Jesus adverte, constantemente, a respeito da motivação egoísta do nosso coração. Quando Mateus se refere ao Diabo e suas tentações, ele se concentra nos aspectos econômicos da vida. O ser humano é tentado pelas ambições pessoais, pelo desejo de ter mais do que necessário, mesmo que para isso tenha que tirar dos desfavorecidos, como tem ocorrido em muitas nações.No versículo 24, Jesus adverte que ninguém pode servir a dois senhores, pois para muitos o dinheiro já se tornou um deus. Mamom, é o deus do egoísmo e contrário ao amor. Para se livrar desse “demônio” e de suas tentações é preciso, em primeiro lugar, voltar-se para Deus de todo o coração e resistir ao amor ao dinheiro. Precisamos aprender a fazer um uso sábio e prudente dos recursos materiais, pois ninguém pode servir a dois senhores. Não tem como amar e ser fiel a Deus e a Mamom, por isso a decisão de quem servir é pessoal e inevitável (1Jo 2.15; Tg 4.4). Escolha servir a Deus, ainda que isso exija de você sacrifícios e renúncias.
Os amigos de Jó acreditavam que ele deveria ter cometido um terrível pecado, por isso lhe sobrevieram tantas dores e infortúnios. Muitos acreditam, como os amigos de Jó, que quando temos saúde, bens materiais e não enfrentamos lutas e provações estamos fazendo a vontade de Deus e em comunhão com Ele. Contudo, Jesus nos alertou que no mundo teríamos aflições (Jo 16.33). Jesus combateu o amor ao dinheiro e propagou a prática da solidariedade e a valorização das pessoas e não dos bens. Os valores de Jesus, do Reino de Deus, são imutáveis e inegociáveis e precisam ser observados por sua Igreja.“[…] que tipo de escolha Deuteronômio afirma que temos de fazer? Temos de fazer uma escolha totalmente pessoal para nós, e em sua relevância em relação a Deus. Vejamos os dois lados dessa equação. Primeiro, a obrigação de fazer a escolha cabe a nós, como indivíduos. Deuteronômio, em todas suas páginas, apresenta o contraste muito claro entre bênção e maldição […]. Basicamente, temos duas escolhas disponíveis em relação a nossa maneira de viver, embora o povo de Deus possa escolher errar de muitas formas, — o pecado entra de muitas maneiras em nossa vida: podemos nos concentrar no único Deus verdadeiro ou em outros deuses ou ídolos. Isso nos leva a outro lado da equação. Nossa decisão de escolher a Deus não é apenas pessoal para nós, mas ela também é pessoalmente relevante em relação a Ele, pois encara nossas encolhas e nossos pecados de forma bastante pessoal. Quando pecamos, sejam quais forem as especificidades do pecado, servimos a um ídolo, a alguém ou a algo que não seja Deus. E isso, é uma afronta pessoal a Ele. Além disso, Deuteronômio e o resto da Bíblia, às vezes, referem-se à desobediência como falta de crença no Senhor” (DEVER, Mark. A Mensagem do Antigo Testamento: Uma Exposição Teológica e Homilética. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2015, pp.168,169).
- QUEM AMA O MUNDO O AMOR DO PAI NÃO ESTÁ NELE (v.15)
- O que é o mundo? A palavra grega para mundo é kosmos. Ela tem três diferentes significados no Novo Testamento. Observe: o mundo físico criado por Deus, o planeta em que vivemos (Mt 13.35; At 17.24); a humanidade em geral, objeto do amor sacrificial de Deus para salvação (Jo 3.16) e o sistema dominante que se opõe a Deus (Mt 16.26; Jo 14.17; 15.18). Nas lições do trimestre vamos tratar a respeito deste último (Rm 12.2).
- Não ame o mundo. A Primeira Carta de João mostra que o mundo é constituído por três tipos de pessoas: as que não conhecem a Deus (3.1); as que são contrárias à Igreja de Cristo (3.13) e as que são dominadas pelo maligno (5.19). O cristão não deve tomar a mesma forma das pessoas que fazem parte do mundo (Rm 12.1,2). O crente deve renovar sua mente por meio da Palavra de Deus, da oração e do jejum. Ele deve influenciar, com suas ações e palavras, as pessoas que se opõem a Deus. O crente é “sal” e “luz” e não pode jamais permitir ser influenciado pelo estilo de vida daqueles que não conhecem a Deus. O mundo usurpa a paixão de quem se deixa levar por ele. Por isso, precisamos estar em constante vigilância para que não venhamos a nos acostumar com o estilo de vida daqueles que são contrários à vontade e à ética do Reino de Deus.
- O amor ao mundo é inconsistente com o amor de Deus. Quanto mais próximo o cristão estiver do sistema deste mundo, mais ele se distanciará da presença de Deus. Jesus, na oração sacerdotal, deixou claro que seus discípulos estavam no mundo (Jo 17.11), mas eles não eram do mundo, ou seja, não se conformavam com o sistema opressivo dominante dos homens ímpios (Jo 17.14). O discípulo de Cristo já foi chamado e resgatado do mundo de trevas; como filho de Deus, e nova criatura, é enviado ao mundo como luz e testemunha viva da transformação que se dá por meio do Evangelho (Jo 17.18). Os que se amoldam ao estilo de vida do mundo não tiveram uma experiência real com Jesus Cristo e jamais poderão agradar a Deus.Cristo provou o seu amor por nós oferecendo a sua vida em sacrifício vivo e perfeito. Se queremos retribuir a esse amor, precisamos viver uma vida santa, longe dos pecados deste mundo. Paulo traz uma advertência séria para nós, pois os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus: “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós […]” (Rm 8.8,9).
- A COBIÇA E A SOBERBA, FRUTOS DA CULTURA MATERIALISTA (v.16)
- A cobiça da carne. A concupiscência da carne é a falta de domínio sobre os desejos carnais. As pessoas que se entregam à cobiça da carne tornam-se escravas de pecados, como por exemplo, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias (Gl 5.19,20). Porém, “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24).O cristão deve ter domínio sobre a natureza humana, caída e pecaminosa. Algumas pessoas atribuem suas condutas imorais somente à ação de Satanás, mas o apóstolo Tiago deixa bem claro que elas cometem pecados motivadas pelos próprios pecados: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14).2. A cobiça dos olhos. Os olhos são considerados as janelas da alma. Se controlados e conduzidos pelos interesses individuais e egoístas, podem levar o ser humano a uma cobiça desenfreada e ao afastamento da vontade de Deus. A Bíblia narra alguns episódios de pessoas que, devido à cobiça dos olhos, atraíram para si resultados desastrosos.
- a) Adão e Eva. A narrativa da criação apresenta a entrada do pecado no mundo tendo sua origem na cobiça dos olhos. A ambição dos olhos conduziu à desobediência (Gn 3.6,7);b) Acã. Durante a conquista liderada por Josué, Acã avista entre os despojos de guerra uma linda capa babilônica, vindo a cobiçá-la e tomá-la para si. Toda a comunidade foi prejudicada (Js 7.20,21);c) Davi. Quando estava em um lugar que não deveria estar, vê uma formosa mulher (casada) tomando banho. Ele a cobiça, comete adultério e depois um assassinato (2Sm 11.1-4). Esses exemplos têm-se repetido na vida de muitas pessoas que não estão atentas ao risco da cobiça dos olhos.
- A soberba da vida. Pessoas famosas acabam influenciando outras, em especial a juventude. Jovens também querem, a todo custo, fama, dinheiro e prestígio. Aquele que não tem o temor de Deus busca a ostentação pretensiosa a qualquer preço, se precisar renuncia à prática da honestidade, da integridade para buscar “poder” e “glamour”. O mundo consumista da atualidade, que valoriza o ter em detrimento do ser, tem grande influência no comportamento das pessoas. Mas o maior e melhor modelo a ser seguido é Jesus, que mesmo sendo Deus, viveu neste mundo e jamais pecou, tendo uma vida simples e humilde, amando e indo ao auxílio das pessoas desfavorecidas (Fp 2.6-11).
III. ENTRE O MATERIALISMO TEMPORÁRIO E A VONTADE ETERNA DE DEUS
- A vida é passageira. Algumas pessoas, enquanto jovens, pensam que a juventude vai durar para sempre, mas ela é passageira. O autor de Eclesiastes, no capítulo 12, aborda de maneira magistral, a respeito do envelhecimento humano. Ele incentiva o temor e reverência a Deus desde o tempo de força e vitalidade (juventude), para não chegar ao final da vida sem forças, sem desejos e com o peso do arrependimento. Tudo teve um começo e terá um fim, a vida também. Ela é efêmera e um dia teremos de prestar contas a Deus do que fizemos com nossos recursos, dons e talentos. Por isso, a necessidade de priorizar o que é eterno. Não coloque a sua confiança nos prazeres momentâneos ou nos bens e recursos humanos, pois o conselho bíblico continua atual: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento” (Ec 12.1).
- Jovens que venceram a oferta do mundo por meio da Palavra. O texto de 1 João 2.15-17 faz parte de um contexto literário maior. Ele está unido a 1 João 2.12-14, que afirma ter os jovens já vencido as ofertas do mundo por meio da Palavra. O autor enfatiza: “[…] Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno” (v.14). Texto que, por sua vez, também tem relação com a passagem bíblica precedente (vv.3-11). Jovem, você já venceu as ofertas do mundo, procure fazer a vontade de Deus e observe os mandamentos do Senhor.
- Trabalhando em favor do que é eterno. Jesus, após a multiplicação dos pães, recomenda a seus ouvintes trabalharem “não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna” (Jo 6.27). Ele acrescenta que a libertação verdadeira se dá somente aos que “permanecerem em sua palavra” (Jo 8.31). Deus quer que as pessoas compreendam sua vontade (Ef 5.17) e conheçam seus atos e caminhos (Sl 103.7). Quem ama a Deus sente alegria em fazer a vontade divina e tem a garantia da vida eterna. Procure fazer a vontade de Deus ainda que você tenha que abrir mão daquilo que deseja, pois a vontade de Deus para os seus filhos é sempre boa, agradável e perfeita (Rm 12.2).
“[…] É difícil contestar ou dissuadir os próprios discípulos do amor ao mundo. Essas razões são tiradas:
- Da inconsistência desse amor com o amor de Deus: ‘Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele’ (v.15). O coração do homem é estreito e não pode conter os dois tipos de amor. O mundo afasta o coração de Deus; e, assim, quanto mais o amor do mundo prevalecer, mais o amor de Deus diminuirá e se deteriorará.
- Da proibição do amor mundano ou da concupiscência; ela não é determinada por Deus: Ela ‘[…] não é do Pai, mas do mundo’ (v.16). Esse amor (ou concupiscência) não é ordenado por Deus (Ele nos chama para nos afastarmos dela), mas se intromete a partir do mundo; o mundo é um usurpador de nossa paixão. Temos aqui uma consideração e noção apropriadas do mundo, de acordo com as quais ele deve ser crucificado e renunciado.
O mundo, fisicamente considerado, é bom e deve ser admirado como obra de Deus e um espelho na qual a sua perfeição brilha, mas deve ser considerado no seu relacionamento conosco agora em nosso estado corrompido e como trabalho em nossa fraqueza e instiga e inflama nossas paixões perversas. Existe uma grande afinidade e aliança entre o mundo e a carne, e este mundo penetra e invade a carne e assim se volta contra Deus” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse. 2ª Edição. RJ: 2010, p.915).“O motivo pelo qual ‘o mundo’ ouve os oponentes é que eles ‘falam do mundo’ (1Jo 4.5) ou ‘falam a partir do ponto de vista do mundo’. Não provocam a hostilidade do mundo porque esta resulta somente da exibição de seus feitos malignos, quando são revelados pela luz da mensagem de Deus (Jo 7.7; cf. 1Jo 3.12). Os oponentes de João podem ter sido como certos oponentes de Paulo, que foram atraídos ao que era visível e que impressionava (2Co 10.11). Em resposta, Paulo insistiu que os cristãos devem manter seus olhos (espirituais) fixos não no visível, que é apenas temporário, mas no invisível, que é eterno (2Co 4.18). Isto é notavelmente semelhante à linguagem do verso final desta seção: Qualquer coisa associada com o mundo ‘passa’, mas ‘aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre’. A fascinação pelo que é material é grande. Mas somente um louco acumula tesouros na terra, que breve serão perdidos, ao invés de acumulá-los no céu, onde jamais serão perdidos (Mt 6.19-21)” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.971).
FONTE WWW.MAURICIOBERWALD.COMUNIDADES.NET