II-O PROFETA EM O NOVO TESTAMENTO
Em o Novo Testamento, só há um livro profético — O Apocalipse. Nenhum personagem neotestamentário, além de João, o Evangelista, escreveu outro livro com esse caráter. Mas, ao longo de seus livros, encontramos referências a profetas, que tiveram papel relevante. Vamos refletir um pouco sobre eles.
UM DOM MINISTERIAL
Em sua carta aos coríntios, o apóstolo Paulo fala da importância do corpo de Cristo, enfatizando que os crentes são “seus membros em particular” (1 Co 12.27). E o faz, depois de demonstrar a necessidade da unidade do corpo de Cristo, fazendo uma analogia com o corpo humano, mostrando que nenhum membro do corpo pode dispensar a função do outro. “Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo” (1 Co 12.18-20). Daí, porque nenhum dom ministerial é maior que o outro. A ordem dos dons, no texto, é questão de prioridade.
Com essa visão, da unidade do corpo de Cristo, que é a Igreja, o apóstolo apresenta uma lista de dupla referência. Primeiro, fala de homens a quem Ele põe na igreja, ao que tudo indica, numa ordem de prioridade. São “homens-dons”, por assim dizer. Nessa lista, os “profetas” aparecem em segundo lugar. Sem dúvida, não é por acaso, mas segundo o entendimento do Espírito Santo. Os profetas eram os homens usados por Deus para transmitir mensagens divinas para a comunidade dos que eram ganhos para Cristo. Eram mensagens sobrenaturais. Os doutores eram os que cuidavam do ensino ou do discipulado, estudando, interpretando e ensinando os fundamentos da fé cristã com profundidade.
Na segunda parte do texto, vemos Paulo apresentar uma lista de ministérios, indispensáveis à unidade, a edificação, ao fortalecimento e à própria administração da igreja local: “depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.28 b), e faz indagações que enfatizam o valor do uso dos dons de modo integrado e não fragmentado (1 Co 12.29-31). Se um dom fosse maior que o outro, não promoveria a unidade indispensável do corpo de Cristo.
Escrevendo aos efésios, Paulo é mais didático ou explícito, em relação aos dons ministeriais. “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo ” (Ef 4.11-13 — grifos nossos). Observe que, à semelhança do texto de 1 Coríntios 12.28, os profetas vêm em segundo lugar.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 86-87.
No Novo Testamento, a palavra comumente usada é prophétes, que aparece por cento e quarenta e nove vezes, que exemplificamos com Mat. 1:22; 2:5,16; Mar. 8:28; Luc. 1:70,76; 7:16; Joio 1:21,23; 3:18,21; Rom. 1:2; 11:3; I Cor. 12:28,29; 14:29,32,37; Efé. 2:20; Tia. 5:10; I Ped. 1:10; 11 Ped. 2:16; 3:2; Apo. 10:7; 11:10. O substantivo prophetela, «profecia », é usado por dezenove vezes no Novo Testamento: Mat. 13:14; Rom. 12:6; I Cor. 12:10; 13:2,8; 14:6,22; I Tes. 5:20; I Tim. 1:18; 4:14; 11 Ped. 1:20,21; Apo. 1:3; 11:6; 19:10; 22:7.10,18,19. Essas palavras derivam-se do grego pro, «antes.., «em favor de.., e phemi; «falar.., ou seja, «alguém que fala por outrem.., e, por extensão, «intérprete.., especialmente da vontade de Deus. Tais palavras gregas, naturalmente, estão por detrás do termo português «profeta... Apesar da ideia de predição do futuro fazer parte inerente do oficio profético, incluindo acontecimentos nacionais, comunais e individuais, o oficio profético envolvia as atividades de exortação, ensino, pastoreio e liderança espiritual em geral. Os profetas eram tidos como representantes de Deus, libertadores e intérpretes da mensagem divina. Eles serviam de elo vital na questão das revelações, bem como veículos do conhecimento espiritual. As revelações por eles recebidas, por ordem do Senhor em alguns casos tomaram-se concretas nos livros que escreveram. Esses livros, por sua vez, foram canonizados, com a passagem do tempo, sendo então aceitos como Escrituras Sagradas. Isso põe-nos frente a frente com o conhecimento através do misticismo (vide), do qual a profecia é uma subcategoria.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 424.
Ef 2. 19-20. “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros” (v. 19). Isso ele menciona em contraste com o que tinha observado deles no seu paganismo: eles já não eram mais separados da comunidade de Israel. Os judeus estavam acostumados a considerar todas as outras nações da terra estrangeiros para Deus, mas agora eles também eram “...concidadãos dos Santos e da família de Deus”, isto é, membros da igreja de Cristo, e tendo direito a todos os privilégios dela.
Observe aqui: A igreja é comparada a uma cidade, e cada pecador convertido está livre do seu pecado. Ela também é comparada a uma casa, e cada pecador convertido faz parte dela, é membro da família, servo e filho na casa de Deus. No versículo 20, a igreja é comparada a um edifício. Os apóstolo e profetas são o fundamento desse edifício. Eles podem ser chamados assim em um sentido secundário, onde Cristo é o fundamento principal. Mas, nós temos de entender esse aspecto no contexto da doutrina anunciada pelos profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo. Lemos então: “...de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 585.
Estes versículos expõem quatro aspectos da metáfora. Primeiro, os apóstolos e profetas são as pedras da fundação do templo (20a). Recebem esta designação, porque sua função é proclamar a Palavra do Senhor. Wesley observa que “a palavra do Senhor, declarada pelos apóstolos e profetas, sustenta a fé de todos os crentes”. Certos estudiosos veem uma contradição no pensamento de Paulo ao usar esta metáfora aqui e em 1 Coríntios 3.11. Lá, Cristo é o fundamento. O problema se resolve quando nos damos conta de que ele emprega a metáfora em sentidos diferentes. Na passagem coríntia, o pensamento gira em torno de si mesmo e de outros como construtores. Na relação aqui está claro que Cristo é o fundamento sobre o qual eles constroem. Paulo está enfatizando as pedras usadas na construção. Nesta relação, Cristo é a pedra da esquina. Todos os outros são pedras de menor significação. Mas, mesmo sendo de menor importância, os apóstolos e outros ministros na igreja são pedras de fundação no edifício de Deus.
O segundo aspecto é que Cristo é a principal pedra da esquina do templo (20b,21). A palavra principal não precisava aparecer aqui. Os léxicos concordam que a palavra grega significa “pedra angular”. A história deste pensamento remonta ao próprio Cristo (Mc 12.10). Ele o retirou do Salmo 118.22, que diz: “Apedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça de esquina”. Duas opiniões prevalecem sobre o lugar preciso desta pedra nas estruturas construtivas de antigamente. 1) Era a pedra colocada na fundação em um canto, não só para firmar tudo, mas para estabelecer o alinhamento para os muros. Esta opinião está de acordo com 1 Pedro 2.7 e apóia a idéia de que Cristo é aquele de quem a construção depende. 2) Era a pedra colocada no “topo do edifício, como vértice e conclusão”. Bruce favorece esta interpretação, quando escreve: “A pedra angular é cortada de antemão, e não só firma a estrutura quando é colocada no lugar, mas serve de ‘pedra de teste’ para mostrar que o edifício foi construído segundo as especificações do arquiteto”. Seja qual for a interpretação que aceitemos, a intenção do apóstolo é afirmar que Cristo controla a configuração e a forma da igreja.
O terceiro aspecto é que os crentes em Cristo são as pedras vivas, que bem ajustadas, crescem para templo santo. Os manuscritos mais antigos diferem quanto a uma frase aqui (21). Alguns têm a expressão pasa he oikodome, todo o edifício (i.e., o edifício inteiro); outros têm expressão pasa oikodome, “todo edifício” (i.e., cada edifício). Para certos comentaristas, a segunda tradução dá a entender um complexo de edifícios (cf. BAB). Portanto, Paulo fala da construção de outros edifícios relacionados ao santuário principal. Por outro lado, é mais provável que Paulo esteja interessado em mostrar que a igreja ainda está no processo de construção. Por isso, emprega a metáfora do crescimento. Mackay comenta: “E permanente o acréscimo de outras pedras vivas ao edifício inacabado. As pedras que já estão e as que ainda serão postas na estrutura sagrada devem ‘crescer para templo santo no Senhor’”. Este crescimento ocorre e fica bonito somente quando seus novos membros, “pela qualidade do seu discipulado em manter-se estritamente fiel ao Senhor, contribuem para a unidade, força e perfeição da igreja”.
O quarto aspecto é que o templo no qual os gentios são edificados é a habitação de Deus (22). Na antiga ordem, o Tabernáculo e o Templo existiam apenas para proporcionar um lugar para o Santo de Israel.31 Mas Paulo escreveu aos crentes coríntios: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16). No novo concerto, Deus não só chama um povo, mas mora com eles. Como afirma Mackay: “A Igreja Cristã, quando é verdadeiramente a Igreja, é a Casa da Presença”.
Nos versículos 4 a 22, temos o assunto: “A Igreja, a Morada de Deus”. A unidade da Igreja Invisível é o tema de fundo. 1) A fundação da Igreja, 20; 2) A construção da Igreja: inclusiva, 11-19; exclusiva, 4-11; de projeto simétrico — bem ajustado; cresce até à conclusão — cresce para templo santo no Senhor, 21; 3) “Em Cristo”, a Igreja é a morada de Deus no Espírito, 22 (G. B. Williamson).
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 143-144.
Ef 2.19 O reconquistado acesso a Deus para os que antes estavam longe acarreta uma conseqüência significativa: “Logo já não sois estrangeiros e peregrinos”.
Em Gn 23.4 (cf. também Gn 24.37; Sl 39.12) Abraão se classifica como “forasteiro e ocupante” em Canaã, a terra da promessa. Essa formulação é interpretada em Hb 11.13 com vistas à trajetória da fé: os patriarcas estavam a caminho da celestial terra da promessa (Cf. Hb 11.14ss). Do mesmo modo os cristãos são “estrangeiros e peregrinos” (1Pe 1.1; 2.11), porque não têm neste mundo “cidade permanente, porém buscam a que há de vir” (Hb 13.14). Por essa razão seu modo de vida também precisa corresponder a essa situação básica: não devem prender-se de forma definitiva a coisas desta vida, mas “ter como se não tivessem” (1Co 7.29ss).
A locução dupla “estrangeiros e peregrinos” adquire mais um sentido em relação à posição de gentios e judeus cristãos. Enquanto os gentios estavam “naquele tempo… alienados da comunidade da promessa” (Ef 2.12), porque eram mantidos afastados do Deus de Israel pela cerca da lei, essa situação foi eliminada e radicalmente alterada em Cristo: são agora “concidadãos dos santos e familiares de Deus”.
Isso não significa que os gentios cristãos sejam incorporados à “cidadania de Israel” (em grego: politeia; Ef 2.12) como “concidadãos” (em grego: sympolitai). A “comunidade” da igreja gerada em Cristo é uma criação completamente nova, na qual são acolhidos adeptos tanto judeus como gentios. Por um lado, é totalmente incorreto pensar que a atuação de Cristo praticamente suspendeu a história de Deus com seu povo, tornando-a nula, ou seja, que a igreja substituiu Israel sem compensação. Para qualquer pensamento nessa direção vale a admoestadora recordação de Paulo: “sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti”, o ramo de oliveira outrora brava, mas agora enxertada (Rm 11.17s). Por outro lado, essa situação na história da salvação de Israel não propicia aos membros do povo da aliança veterotestamentária uma posição especial, na qual pudessem trilhar um caminho singular à parte da fé em Jesus Cristo. Os “santos”, cujos “concidadãos” os destinatários da carta se tornaram, não são formados nem por judeus nem por judeus cristãos, mas por todos os crentes que já integram a igreja de Jesus Cristo.
Como essa cidade (grego: polis) de Deus é celestial (cf. Hb 12.22), o direito de cidadania (grego: politeuma) também está no céu (Fp 3.20). É a herança (Ef 1.14,18), da qual os cristãos já participam em Jesus Cristo (Ef 2.6).
Com a ilustração da cidade (“concidadãos”) está associada a metáfora da casa: “familiares de Deus”. A igreja é “casa espiritual” (1Pe 2.5; cf. 4.17), à qual pertencem “familiares da fé” (Gl 6.10).
Ef 2.20 Nos v. 20-22 a ilustração da casa é desenvolvida por meio da metáfora da construção: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”.
O edifício espiritual possui um fundamento que o próprio Deus lançou na história. Essa construção não é de forma nenhuma correspondente à situação eclesial atual, mas é uma construção básica que repousa durante os séculos sobre um fundamento claramente descritível: conforme 1Co 3.11, trata-se do próprio Cristo. “Está posto”, i. é, Deus o lançou. Ao lado dele não existe outra possibilidade de fundamentar a igreja de Jesus Cristo.
Em decorrência, é preciso considerar esse pano de fundo para entender a afirmação de que a igreja é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”. Estes não sustentam a construção em si, mas recebem a revelação divina do evangelho de Jesus Cristo (Ef 3.5s). Nisso, no entanto, reside sua importância “fundamental” para a igreja. Pelo fato de que aprouve a Deus desvendar o “mistério de Cristo” por meio dessas testemunhas primeiro à igreja formada de judeus e gentios e que possui Jesus Cristo como alicerce e alvo, por isso sua palavra possui uma função alicerçadora. Pelo fato de valer para todos os tempos, a igreja é tanto “apostólica” como também “católica”, i. é, universal. Todas as palavras expressas dentro dela precisam submeter-se à avaliação pela norma desse fundamento.
A partir da escolha dos doze discípulos por parte de Jesus, bem como da lista das testemunhas oculares em 1 Co 15.3-5 e da menção dos “colunas” em Gl 2.9 fica claro quem faz parte do grupo dos apóstolos. Paulo é acrescentado como “nascido fora do tempo” (1 Co 15.8).
Ao longo da história da interpretação, os “profetas” citados depois dos apóstolos geralmente foram entendidos como os profetas do AT. No entanto, aqui se tem em mente os profetas do primeiro cristianismo que interpretavam o evangelho de Jesus Cristo em relação à situação atual (para uma noção concreta, cf. 1 Co 14.24s). Como premissa os profetas possuem a revelação divina, e em sua proclamação são reféns dessa revelação.
Também a segunda parte do versículo foi alvo de diferentes explicações: “cuja pedra final é Cristo Jesus”. Duas traduções são viáveis, que concebem de maneira distinta a relação entre Jesus Cristo e a construção: “Jesus Cristo é a pedra angular dele (= do fundamento)”: i. é, como pedra angular Jesus Cristo é parte essencial do fundamento; ou: “Jesus Cristo é a pedra angular/final dele” (= do edifício), i. é, Jesus Cristo se contrapõe ao fundamento como pedra conclusiva da obra.
Para podermos decidir essa questão é preciso inicialmente esclarecer a tradução “pedra angular” ou “pedra final”.
A comprovação bíblica dessa interpretação está em Is 28.16 e Sl 118.22. Em 1Co 3.10s aplica-se claramente a Cristo o significado de “fundamento”. O “crescimento do edifício” (Ef 2.21) parte da pedra angular.
O último argumento, no entanto, também pode ser usado para justificar a tradução como “pedra final”: justamente na carta aos Efésios tem-se em vista a conclusão da construção, que se dá pela pedra final (de destaque particular na arquitetura). Como Cristo é o cabeça, os crentes devem crescer em direção dele (Ef 4.15s). Assim fica evidente que ambas as possibilidades são inegavelmente válidas e que também são usadas por Paulo nas duas acepções de acordo com a ilustração (construção, ou corpo). Nós preferimos a interpretação “pedra final”, visto que o encadeamento das idéias dos v. 20-22 destacam primordialmente o aspecto da evolução desse edifício do fundamento ao prédio concluído – com Cristo como a pedra final que coroa e mantém tudo unido.
Eberhard Hahn. Comentário Esperança Efésios. Editora Evangélica Esperança.
Entendendo o Texto
“Principalmente o [dom] de profetizar” (1 Co 14.1- 5). A natureza exata do dom da profecia, como exercido na igreja do século I, é muito debatida. Alguns consideram que 13.8 (na versão ARA), “profecias... desaparecerão” significa que, depois de completados os escritos do Novo Testamento, revelações especiais dadas por meio de membros das congregações locais não seriam mais necessárias, e que, sendo assim, o “dom da profecia” original foi transformado em um dom de pregar a Palavra. Outros sustentam que é o dom da revelação. Não que a profecia substitua a Palavra de Deus, mas que, de certa maneira, ela suplementa a Escritura ao mesmo tempo em que se mantém subordinada a ela.
A visão de Paulo foi clara. “Profecia” é uma instrução emitida em linguagem clara e comum, para que todos possam entender, e que fortaleça os crentes. A despeito do que a profecia seja, em detalhes, ela fazia para a igreja a mesma coisa que uma mãe faz ao falar sobre Deus à criança enquanto a coloca na cama. Ela fazia para a igreja a mesma coisa que uma família faz ao ler um livro devocional e falar sobre o seu significado. Ela fazia para a igreja a mesma coisa que um professor da Escola Dominical faz ao explicar como uma passagem da Bíblia se aplica à nossa vida diária.
Você pode não pensar em si mesmo como um profeta. Mas pode ter um ministério de profeta — e recompensa — ao partilhar sua fé com sua família e amigos.
Lawrence O. Richards. Comentário Devocional da Bíblia. Editora CPAD. pag. 817-818.
O valor da profecia
A palavra de Deus ou "palavra profética", foi sempre de "muita valia" para o povo de Deus em geral (1 Sm 3.1). Talvez por isso Moisés tenha exclamado: "Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu espírito!" (Nm 11.29).
O profeta Joel, ao vaticinar o grande derramamento do Espírito sobre toda a carne, fala de uma efusão profé¬tica: "Vossos filhos e vossas filhas profetizarão" (Jl 2.28).
Finalmente, Paulo manifesta o mesmo sentimento, aconselhando os coríntios a procurar "com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar" (1 Co 14.1). Nos versículos seguintes, o apóstolo reafirma sua admoestação em outros termos, como por exemplo:
"E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas" (v. 5); "Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar" (v. 39).
Segundo alguns escritores neotestamentários, parece que na igreja de Corinto ensinadores usavam "palavras persuasivas de sabedoria humana", tornando-se quase impossível aos "indoutos" alcançar o pensamento desses requintados pregadores (cf. 1 Co 2.1-13). Diante de tal circunstância o Espírito de Deus supria esta lacuna, usando alguém com o dom de profecia. Daí o comentário do apóstolo: "Mas se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar [no templo], de todos é convencido, de todos é julgado. Os segredos [as dúvidas] do seu coração ficarão manifestos [respondidos], e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós" (1 Co 14.24,25).
A finalidade da profecia
O dom de profecia tornara-se o mais desejado da igreja em Corinto, provavelmente, como observa Faucett, pelas seguintes razões:
Note que a profecia citada neste capítulo não é o ministério profético que o mesmo Paulo menciona em Efésios 4.11, evidentemente também chamado "dom". Mas é um "dom de governo", ligado diretamente à área ministerial. Enquanto que a profecia, ainda que ligada também ao ministério profético, é um "dom do Espírito Santo" outorgado à igreja para "edificação, exortação e consolação". Os profetas mencionados no Antigo Testamento eram pessoas revestidas do "ministério profético", e geralmente iniciavam a mensagem profética, dizendo: "Assim diz o Senhor" ou: "Veio a mim a palavra do Senhor".
No caso do dom de profecia, a mensagem parte sempre diretamente de Deus e é transmitida como se o próprio Deus estivesse falando. No exercício do ministério profético propriamente dito, dificilmente profetizavam dois ou mais profetas ao mesmo tempo e em um só lugar, como acontece com o dom de profecia. Paulo orienta: "Falem dois ou três pessoas, e os outros julguem. Mas se a outro [profeta], que estiver assentado, for revelado al¬guma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros... E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas" (1 Co 14.29-32).
O ministério profético e o dom de profecia encontram-se associados em ambos os Testamentos. Em Números 11.25,26, o Espírito de Deus repousou sobre setenta anciãos de Israel, concedendo-lhes uma espécie de dom de profecia. Eles profetizaram ali, e depois, nunca mais. Entretanto, "no arraial ficaram dois homens; o nome de um era Eldade, e o nome do outro, Medade; e repousou sobre eles o Espírito (porquanto estavam entre os inscritos, ainda que não saíram à tenda), e profetizavam". Eldade e Medade receberam o ministério profético, enquanto os setenta anciãos receberam apenas uma porção deste ministério, ou seja, o dom de profecia. A palavra hebraica para "profeta" é nabil, e foi usada pela primeira vez em Gênesis 20.7; depois, aparece mais de trezentas vezes no Antigo Testamento. No Novo Testamento, a palavra prophetes aparece 149 vezes. Sete dessas ocorrências, nas Escrituras, são aplicadas a figuras femininas, ou "profetisas": Miriã, Débora, Hulda, Noadias, a mulher do profeta Isaías, Ana e Jezabel (Êx 15.20; Jz 4.4; 2 Rs 22.12; Ne 6.14; Is 8.3; Lc 2.36; Ap 2.20).
Atos 20.8,9 também revela que Filipe, o evangelista, era pai de "quatro filhas donzelas que profetizavam".
Toda e qualquer profecia, seja plenária (2 Pe 1.19-21) ou uma revelação momentânea operada através do dom, diante de qualquer necessidade da igreja deve trazer em seu conteúdo "o testemunho de Jesus", que é o "espírito de profecia" (Ap 19.10).
SEVERINO Pedro da Silva. A Existência e a Pessoa do Espírito Santo. O Espírito Santo é um Ser real que age e vive entre nós. Editora CPAD.
O DOM DE PROFETA NÃO É PARA TODOS
Examinando o contexto do capítulo 12 de 1 Coríntios, podemos verificar e concluir que os dons ministeriais não são para todos os crentes, na igreja local. Diz o texto: “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.18). Note-se que o texto diz que “a uns pôs Deus na igreja”. Isso mostra que Deus não pôs todos, mas “uns”.
Na lista de Paulo aos efésios, vemos escrito: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Quando o escritor diz “uns” e “outros” fica bem claro que tais dons não estão à disposição de todos os crentes. Diz a Bíblia de Estudo Pentecostal: “Como dom de ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na igreja como ministros profetas’ (grifo nosso).
1) O aperfeiçoamento dos santos. A finalidade dos dons ministeriais é “o aperfeiçoamento dos santos” (1 Pe 1.15), ou seja, dos crentes fiéis, santificados e comprometidos com o Reino de Deus, “para a obra do ministério”. Há o ministério ordenado, regular, integrado pelos pastores, evangelistas, presbíteros, diáconos ou cooperadores, ordenados, consagrados ou separados para atender às necessidades da comunidade cristã. E há ministérios diversos, que não são realizados pelos ministros ou obreiros do corpo ministerial. Na música, no louvor, no ensino, nos serviços gerais, na segurança, na operação de equipamentos e outros, que, quando executados por pessoas que são chamadas por Deus, e assumem tais atividades, conscientes de que estão prestando um serviço à igreja, são verdadeiros ministérios.
2) Para a “obra do ministério”. O ministério se constitui dos diversos cargos e funções, necessárias ao desenvolvimento da vida eclesiástica; são os diversos serviços e atividades eclesiásticas e administrativas que norteiam a administração espiritual, humana e organizacional da igreja local. Essa obra requer orientação segura da parte de Deus.
3) A edificação do Corpo de Cristo. Os dons ministeriais também atendem à necessidade da “edificação do Corpo de Cristo”, que é a Igreja (invisível), que se torna visível, no conjunto de salvos, na igreja local. Os crentes salvos são considerados “edifício de Deus” (1 Co 3.9). A metáfora é bem adequada. Os salvos são considerados “pedras vivas”, na construção desse edifício espiritual. Diz o apóstolo Pedro: “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pe 2.5). Nessa edificação, o papel dos que têm o dom ministerial de profeta é de grande valia.
Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 87-88.
PROFETAS. Os profetas eram homens que falavam sob o impulso direto do Espírito Santo, e cuja motivação e interesse principais eram a vida espiritual e pureza da igreja. Sob o novo concerto, foram levantados pelo Espírito Santo e revestidos pelo seu poder para trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo (At 2.17; 4.8; 21.4).
(1) O ministério profético do AT ajuda-nos a compreender o do NT. A missão principal dos profetas do AT era transmitir a mensagem divina através do Espírito, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os preceitos da antiga aliança. Às vezes eles também prediziam o futuro conforme o Espírito lhes revelava Cristo e os apóstolos são um exemplo do ideal do AT (At 3.22,23; 13.1,2).
(2) A função do profeta na igreja incluía o seguinte: (a) Proclamava e interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de Deus, por chamada divina. Sua mensagem visava admoestar, exortar, animar, consolar e edificar (At 2.14-36; 3.12-26; 1Co 12.10; 14.3). (b) Devia exercer o dom de profecia (c) Às vezes, ele era vidente (cf. 1Cr 29.29), predizendo o futuro (At 11.28; 21.10,11). (d) Era dever do profeta do NT, assim como para o do AT, desmascarar o pecado, proclamar a justiça, advertir do juízo vindouro e combater o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus (Lc 1.14-17). Por causa da sua mensagem de justiça, o profeta pode esperar ser rejeitado por muitos nas igrejas, em tempos de mornidão e apostasia.
(3) O caráter, a solicitude espiritual, o desejo e a capacidade do profeta incluem: (a) zelo pela pureza da igreja (Jo 17.15-17; 1Co 6.9-11; Gl 5.22-25); (b) profunda sensibilidade diante do mal e a capacidade de identificar e detestar a iniquidade (Rm 12.9; Hb 1.9); (c) profunda compreensão do perigo dos falsos ensinos (Mt 7.15; 24.11,24; Gl 1.9; 2Co 11.12-15); (d) dependência contínua da Palavra de Deus para validar sua mensagem (Lc 4.17-19; 1Co 15.3,4; 2Tm 3.16; 1Pe 4.11); (e) interesse pelo sucesso espiritual do reino de Deus e identificação com os sentimentos de Deus (cf. Mt 21.11-13; 23.37; Lc 13.34; Jo 2.14-17; At 20.27-31).
(4) A mensagem do profeta atual não deve ser considerada infalível. Ela está sujeita ao julgamento da igreja, doutros profetas e da Palavra de Deus. A congregação tem o dever de discernir e julgar o conteúdo da mensagem profética, se ela é de Deus (1Co 14.29-33; 1Jo 4.1).
(5) Os profetas continuam sendo imprescindíveis ao propósito de Deus para a igreja. A igreja que rejeitar os profetas de Deus caminhará para a decadência, desviando-se para o mundanismo e o liberalismo quanto aos ensinos da Bíblia (1Co 14.3; cf. Mt 23.31-38; Lc 11.49; At 7.51,52). Se ao profeta não for permitido trazer a mensagem de repreensão e de advertência denunciando o pecado e a injustiça (Jo 16.8-11), então a igreja já não será o lugar onde se possa ouvir a voz do Espírito. A política eclesiástica e a direção humana tomarão o lugar do Espírito (2Tm 3.1-9; 4.3-5; 2Pe 2.1-3,12-22). Por outro lado, a igreja com os seus dirigentes, tendo a mensagem dos profetas de Deus, será impulsionada à renovação espiritual. O pecado será abandonado, a presença e a santidade do Espírito serão evidentes entre os fiéis (1Co 14.3; 1Ts 5.19-21; Ap 3.20-22).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Profecia
A profecia é uma manifestação do Espírito de Deus e não da mente do homem, e é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso: 1 Co 12.7.
Embora o dom da profecia nada tenha a ver com os poderes normais do raciocínio humano, pois é algo muito superior, isso não impede que qualquer crente possa exercitá-la: “Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados”, 1 Co 14.31.
Ainda que nalguns casos o dom da profecia possa ser exercido simultaneamente com a pregação da Palavra, é evidente que esse dom é dotado de um elemento sobrenatural, não devendo, portanto, ser confundido com a simples habilidade de pregar o Evangelho.
Dada a importância desse dom em face dos demais dons espirituais, e dentro do contexto da doutrina pentecostal, necessário se faz uma análise cuidadosa, no sentido de conceituá-lo no seio da Igreja hoje.
O apóstolo Paulo adverte os crentes a procurar “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1 Co 14.1); isto por razões que ele mesmo enumera:
“Edificação”, “exortação” e “consolação” são os três elementos básicos da profecia, são a razão de ser e de existir desse dom. É evidente que isto contraria a crença tão popular entre nós, de que o principal elemento da profecia é o preditivo (predição do futuro). Certamente, que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento contêm numerosas profecias preditivas, muitas das quais já se cumpriram, e outras estão se cumprindo, e outras ainda se hão de cumprir, No entanto, no conteúdo geral das Escrituras, o elemento preditivo da profecia é relativamente o menor.
Há algo mais que precisamos ter em mente quanto ao dom de profecia e o seu uso na Igreja hodiemamente:
Escreveu o missionário Eurico Bergstén, que “quando alguém, por meio de profecia, penetra na direção da igreja, mostra que é dominado por influências estranhas. Abre-se, então, uma porta para a perturbação... Quando alguém se faz ‘oráculo de profeta’, para responder a perguntas e orientar os crentes, está usando indevidamente o dom de profecia... O dom de profecia não atinge, nesta dispensação, a faixa de consulta, pois tem uma outra finalidade: a edificação da Igreja”.
Paulo arremata suas advertências quanto ao dom de profecia, dizendo: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”, 1 Co 14.37.
O dom de profecia não deve ser desprezado (1 Tm 4.14), mas despertado (2 Tm 2.16), a fim de que a Igreja seja enriquecida: 1 Co 1.57.
Raimundo F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora CPAD.
O apóstolo então nos relata quais foram os dons de Cristo na sua ascensão: “E ele mesmo deu uns para apóstolos...” (v. 11). Na verdade, Ele enviou alguns desses antes da sua ascensão (Mt 10.1-5), mas um foi acrescentado depois (At 1.26). E todos eles foram mais solenemente empossados e publicamente confirmados, em seu ofício, pelo seu derramar visível do Espírito Santo de uma forma extraordinária. Observe: O grande dom que Cristo deu à igreja na sua ascensão foi o ministério da paz e da reconciliação. O dom do ministério é o fruto da ascensão de Cristo. E ministros têm seus vários dons, que são todos dados pelo Senhor Jesus. Os ministros que Cristo deu à sua igreja eram de dois tipos - os extraordinários, investidos de um ofício superior na igreja: tais eram apóstolos, profetas e evangelistas. Os apóstolos eram os dirigentes. Cristo os investiu com dons extraordinários, poder para operar milagres e uma infalibilidade para anunciar sua verdade. Tendo eles sido testemunhas dos seus milagres e doutrina, Ele os enviou a espalhar o evangelho e a implantar e governar igrejas. Os profetas expunham os escritos do Antigo Testamento e prediziam as coisas do futuro. Os evangelistas eram pessoas ordenadas (2 Tm 1.6) que os apóstolos levavam como companheiros de viagem (Gl 2.1), e os enviavam para estabelecer igrejas que eles, os apóstolos, tinham implantado (At 19.22). Os evangelistas não estavam presos a nenhum lugar específico; por isso, deveriam continuar o seu trabalho até que fossem chamados de volta (2 Tm 4.9). Também existem os ministros ordinários, empregados em uma esfera mais restrita tais como pastores e mestres. Alguns entendem que esses dois nomes significam um ofício só, envolvendo as tarefas de governar e ensinar. Outros entendem que eles representam dois ofícios distintos, ambos regulares e de uso permanente na igreja. Os pastores são colocados como dirigentes principais de igrejas particulares, com o intento de guiar, instruir e alimentar os membros de acordo com as instruções de Cristo. Eles são frequentemente chamados de bispos e anciãos. Os mestres eram aqueles que também pregavam o evangelho e instruíam o povo por meio da exortação. Vemos aqui que é prerrogativa de Cristo designar oficiais e ofícios em sua igreja.
A igreja é rica pelo fato de ter tido uma diversidade tão grande de oficiais e continuar tendo uma diversidade tão grande de dons! Como Cristo é amável com sua igreja! Quão grande é o seu cuidado por ela e pela sua edificação! Quando Ele subiu, enviou o dom do Espírito Santo; e os dons do Espírito Santo são vários: alguns receberam mais, outros, menos; mas todos os dons são para o bem do corpo, o que nos leva ao terceiro argumento:
confirmar e promovê-los nisso, para que cada um, em seu devido lugar e função, possa contribuir para o bem do todo. “...para a obra do ministério” (ou para a obra da dispensação), isto é, para que pudessem repartir as doutrinas do evangelho e cumprir as diversas partes da sua função ministerial, “...para edificação do corpo de Cristo”, isto é, a edificação da sua igreja, que é o corpo místico de Cristo, pelo aumento da graça deles e um acréscimo de novos membros. Todos são designados para preparar-nos para o céu: “...até que todos cheguemos...” (v. 13). Os dons e ministérios (alguns deles) que foram mencionados devem continuar na igreja até que os santos sejam aperfeiçoados, o que não acontecerá “...até que todos cheguemos à unidade da fé (até que todos os verdadeiros crentes se unam, por meio da mesma preciosa fé) e ao conhecimento do Filho de Deus”, o que não quer dizer um conhecimento meramente especulativo, ou o reconhecimento de Cristo como o Filho de Deus e o grande Mediador, mas como deveria ser observado, com apropriação e afeto, com a devida honra, confiança e obediência; “...a varão perfeito”, para o crescimento completo dos dons e graças, livre das fragilidades imaturas às quais estamos sujeitos no presente mundo; “...à medida da estatura completa de Cristo”, tornando-nos cristãos maduros em todas as graças providas pela plenitude de Cristo. Ou, de acordo com a medida dessa estatura que é completar a plenitude de Cristo e seu corpo místico. Nunca chegaremos a ser o varão perfeito, até que cheguemos ao mundo perfeito. Há uma plenitude em Cristo, e uma plenitude a ser obtida dele; uma certa estatura dessa plenitude e uma medida dessa estatura são determinadas no conselho de Deus para cada crente, e nunca chegaremos a essa medida até chegarmos ao céu. Os filhos de Deus, enquanto estiverem neste mundo, estão crescendo. O Dr. Ligthfoot entende que o apóstolo está falando aqui dos judeus e gentios ligados na unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, constituindo, dessa forma, um homem perfeito, e a medida da estatura completa de Cristo. O apóstolo também mostra, nos versículos seguintes, qual era o desígnio de Deus em suas instituições sagradas e quais efeitos deveriam ter sobre nós. (1) “...para que não sejamos mais meninos...” (v. 14); isto é, para que não mais sejamos meninos em conhecimento, fracos na fé e inconstantes em nossos julgamentos, facilmente cedendo a cada tentação, prontamente concordando com o capricho de cada um. Crianças podem ser facilmente iludidas. Devemos cuidar para não sermos inconstantes (ou “agitados de um lado para outro”, versão RA), como navios sem lastro, levados, como nuvens no céu, em relação a doutrinas que não têm verdade nem solidez em si, mas que, mesmo assim se espalham por todo lado, e são, portanto, comparados ao vento, “...pelo engano dos homens”: essa é uma metáfora tirada de jogadores trapaceiros e traz a ideia da sutileza enganosa dos sedutores; “...que, com astúcia”, pelo que dispõem sua habilidade em encontrar maneiras de seduzir; pois segue-se: enganam fraudulosamente, como em uma emboscada, para iludir os fracos e afastá-los da verdade. Observe: Somente homens muito perversos e impiedosos buscam seduzir e enganar os outros por meio de doutrinas falsas e erros. O apóstolo os descreve aqui como homens perversos, que usam manhas e astúcia diabólica para alcançar seus objetivos. O melhor método que podemos usar para nos proteger e nos fortalecer contra essas pessoas é estudar os oráculos sagrados e orar pela iluminação e graça do Espírito de Cristo, para que possamos conhecer a verdade em Jesus, e ser firmados nela. (2) Para que sigamos “...a verdade em caridade” (v. 15), ou falemos a verdade em amor, ou sejamos sinceros em amor com os nossos irmãos em Cristo. Enquanto nos devotamos à doutrina de Cristo, que é a verdade, devemos viver em amor uns com os outros. O amor é uma coisa excelente, mas devemos ser cuidadosos para preservar a verdade junto com ele. A verdade é uma coisa excelente; no entanto, é necessário que a falemos com espírito de amor e não em contenda. Esses dois aspectos devem andar juntos: verdade e paz. (3) Para crescermos “...em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”. Crescer em tudo em Cristo quer dizer estar mais arraigado nele. Em todas as coisas - no conhecimento, no amor, na fé e em todos os aspectos do novo homem. Devemos crescer rumo à maturidade, que é o oposto de continuar sendo meninos. Aqueles que crescem em Cristo são cristãos saudáveis. Quanto mais crescermos no conhecimento de Cristo, na fé nele, no amor a Ele e na dependência dele, tanto mais prosperaremos em graça. Ele é a cabeça, e nós devemos crescer de tal forma que estejamos em condições de honrar essa cabeça.
O crescimento cristão sempre será para a glória de Cristo. (4) Devemos auxiliar uns aos outros, como membros do mesmo corpo (v. 16). Aqui o apóstolo faz uma comparação entre o corpo natural e o corpo místico de Cristo, esse corpo do qual Cristo é a cabeça. Paulo observa que do mesmo modo que há comunhão e comunicação mútua dos membros do corpo entre si, para o seu crescimento e melhoramento, assim deve haver amor e unidade mútua, junto com o fruto apropriado, entre os cristãos, para que ocorra o melhoramento e crescimento espiritual na graça, “...do qual, diz ele (isto é, de Cristo, seu cabeça, que transmite influência e alimento para cada membro específico), todo o corpo, bem ajustado e ligado (estando unidos firme e ordenadamente, cada um em seu devido lugar), pelo auxílio de todas as juntas (pelo auxílio que cada uma das partes, assim unidas, dá ao todo, ou pelo Espírito, fé, amor, sacramentos etc., que, semelhantemente às veias e artérias no corpo, servem para unir os cristãos a Cristo, seu cabeça, e uns aos outros como membros desse corpo), segundo a justa operação de cada parte (isto é, dizem alguns, de acordo com o poder que o Espírito Santo exerce para tornar os meios designados por Deus eficazes para esse grande fim, em relação à medida que Cristo julga ser suficiente e apropriada para cada membro, de acordo com seu respectivo lugar e ministério no corpo; ou, como outros pensam, segundo o poder de Cristo, que, como cabeça, influencia e aviva cada membro; ou, de acordo com o trabalho eficaz de cada membro em comunicar aos outros o que recebeu; assim o alimento é levado a todos na devida proporção e segundo o estado e exigência de cada parte) faz o aumento do corpo”, em conformidade com a necessidade do corpo. Observe: Cada cristão recebe seus dons e graças de Cristo para o benefício de todo o corpo.
“...para sua edificação em amor”. Podemos entender isso de duas maneiras: uma maneira é que todos os membros da igreja podem alcançar uma medida de amor maior para com Cristo e uns para com os outros; a outra maneira é que eles são movidos a agir na forma mencionada do amor a Cristo e uns aos outros. Observe: O amor mútuo entre os cristãos é um grande aliado do crescimento espiritual; ao passo que “...um reino dividido contra si mesmo não pode subsistir” (veja Mc 3.24).
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 592-593.
A Classificação dos Dons (4.11)
Tudo indica que Paulo, quando escreveu estas palavras, tinha em mente a lista dos ministérios relacionados em 1 Coríntios 12.28. A passagem coríntia compreende uma lista mais longa de dons espirituais (charismata). Mas nesta passagem, Paulo está interessado em apresentar os ofícios necessários para a expansão e sustento da igreja. Cristo deu à igreja os apóstolos: os ministros supremos, os doze que haviam visto o Senhor ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm posição proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério inspirado. Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos profetas do Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus. Porém, ocasionalmente prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e 21.9,ll.30 Os evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em lugar para ganhar os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como se faz hoje.
Certos intérpretes sugerem que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao passo que as outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores são pastores de um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada aqui significa, literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é alimentar o rebanho e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma outra função do pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e uma única classe de homens”.31 Contudo, pode ser que os doutores representem uma classe de responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que, mesmo assim, detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são concedidos pelo Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
O Propósito dos Dons (4.12-16)
Falando principalmente da vida interior da comunidade cristã, Paulo descreve o propósito para o qual Cristo deu à igreja estes ministérios. Pelo menos quatro dimensões do propósito divino são distinguíveis.
A unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício. Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa “compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.
A varão perfeito refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o poder de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).
A medida da estatura completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã. Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a perfeição de Cristo”. A chave para interpretar o versículo é a expressão estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma das qualidades que fazem o que ele é”. Quando a igreja está à altura da maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita. E à medida que cresce em direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo. Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
Aqueles que introduzem falsos ensinos, nos quais os crentes instáveis caem vítimas, enganam a si mesmos e também enganam fraudulosamente os outros. Esta fase é mais bem traduzida por “fazem uso de todo tipo de dispositivo inconstante para induzir ao erro” (Weymouth). Eles usam de engano (lit., “jogo de dados”). Metaforicamente, veio a significar “artimanha” (BJ, RA). Moule declara corretamente o aviso de Paulo: “Há pessoas próximas de vós que não só vos desviam, mas o fazem de propósito, pondo armadilhas premeditadas e organizando métodos bem-elaborados, com o objetivo de afastá-los de Cristo a quem eles não amam”. A única proteção adequada contra a sutileza da heresia é uma fé crescente e um conhecimento progressivo da verdade. Os ministros têm de proporcionar a oportunidade de tal maturação para assim garantir a estabilidade na igreja.
No versículo 16, o apóstolo retorna à analogia do corpo e se serve disso para enfatizar a unidade que Cristo, a cabeça, traz para a igreja. Ele visualiza a estrutura maravilhosa e intricada do corpo humano com suas partes unidas de modo bem ajustado e ligado (“bem unido e consolidado”, NEB).39 Na analogia, juntas referem-se aos ligamentos pelos quais as partes do corpo se unem. Quando o corpo está funcionando segundo ajusta operação de cada parte, quer dizer, quando cada parte é ativada de acordo com o seu propósito, a harmonia prevalece e o crescimento é certo. Cristo é, obviamente, o centro e a origem de toda a vida espiritual. Ele dá “coesão e poder vital para o crescimento”.40 Este crescimento resulta na edificação ou “construção” (BAB) da igreja em amor (cf. 1.4; 3.17; 4.2; 5.2). A estrutura tem a ver principalmente com o desenvolvimento espiritual interno, mas quando a igreja é interiormente forte ela aumenta numericamente.
Em suma, Paulo vê a unidade da igreja em termos orgânicos e não organizacionais. A verdadeira unidade é interior e resultado de um organismo saudável. O Espírito cria essa unidade; não é obra de homens, por mais inteligentes ou apessoados que sejam. Quando esta unidade prevalece, compartilhada por cada membro e motivada pela fidelidade de ministros talentosos, a igreja cresce em simetria e beleza, para espanto do mundo não-crente.
Nos versículos 4 a 16, o pensamento da medida da estatura completa de Cristo sugere o tema “O Alvo Ultimo do Cristão”. 1) O meio para esse fim. Ensinar e pregar a Palavra de Deus, 11,12; 2) O compêndio do ideal, 4-7,15. A fé incorporada e o corpo incorporado, 16; 3) A proximidade da meta num caráter estável, 14. Cristo no trono do coração. A igreja unida (G. B. Williamson).
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 160-163./WWW.ESTUDALICAOEBD.BLOGSPOT.COM /WWW.MAURICIOBERWALD.COMUNIDADES.NET